25 outubro 2007

Funeral de ânimo leve

Estamos numa sala negra, com caixão.
Todos choram mas nós não.
Nós sorrimos lembrando o que passámos juntos.
E batemos palmas e latas,
e aplaudimos para que ouçam os defuntos.
No cemitério, bebemos café com natas
e batemos com as colheres de prata.

É uma rotina criada, a de fazer uma grande festa,
enquanto a vida que passa ainda resta.
Por isso para nós somos sempre sete,
nunca ninguém falta.
E esta alegre cena sempre se repete,
cada vez que se junta a malta.
Solto uma gargalhada, bem alta.

Temos perfeita consciência de não termos sanidade.
Mas até os insanos devem ter a sua privacidade.
E temos perfeita consciência
que esta vida está por um fio,
por isso tenham paciência,
não digam: "estes são do piorio!".
(Festejamos na mesma,) até porque o caixão está vazio.

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